Um dente megalodonte malformado sugeriu uma lesão que pode ter enfraquecido sua estrutura. O enorme e extinto megalodonte (ou megalodon) dominou os mares há milhões de anos, mas mesmo esse temível carnívoro oceânico não estava imune a problemas dentários.

Análises recentes de um dente de megalodon (Otodus megalodon) com uma rara anormalidade – um sulco no meio – sugere que a deformidade dentária pode traçar suas raízes a uma lesão na mandíbula do tubarão gigante, talvez causada por uma presa que revidou. Em uma ilustração que mostra um possível encontro, um peixe perfura a mandíbula do predador perseguidor com seu bico afiado, o que pode ter preparado o cenário para o megalodonte crescer um dente dividido.

Outra possibilidade é que o grande tubarão tenha sido empalado por uma espinha de uma arraia, escreveram os cientistas em um novo estudo.

Em humanos e outros mamíferos, fatores genéticos, doenças ou lesões podem às vezes afetar os brotos dentários e causar uma anormalidade dentária conhecida como “patologia de dente duplo”, na qual um único dente cresce com uma divisão longitudinal no centro, escreveram os autores do estudo. Esses dentes podem representar dois brotos dentários que se combinaram para formar um dente, um processo conhecido como fusão, ou um único broto dentário que se dividiu, conhecido como geminação. No entanto, pouco se sabe sobre esta patologia em tubarões.

Para o estudo, os pesquisadores analisaram um dente de megalodonte de 4 polegadas (10 centímetros) de comprimento ao lado de dentes fósseis de outros tubarões, para determinar o que pode ter causado as deformidades. Os cientistas concluíram que uma lesão traumática foi a causa mais provável dos dentes pré-históricos, e o encontro que danificou o dente do megalodonte pode ter afetado a forma como o tubarão caçava e se alimentava.

Megalodonte: maiores tubarões do mundo

Megalodon foi um dos maiores predadores que já viveram, medindo pelo menos 15 metros de comprimento e até 20 metros de comprimento por algumas estimativas, informou a Live Science anteriormente. Para colocar isso em perspectiva, os grandes tubarões brancos modernos (Carcharodon carcharias) normalmente crescem para não mais de 6 m de comprimento.

Embora o thriller de megalodon “The Meg” (Warner Bros Pictures, 2018) tenha proposto que megalodontes solitários ainda pudessem se esconder nas profundezas do oceano, a maioria dos fósseis de megalodontes datam de cerca de 15 milhões de anos atrás, e todas as evidências dos tubarões gigantes desapareceram do registro fóssil depois que eles foram extintos, cerca de 2,6 milhões de anos atrás.

Os tubarões têm esqueletos feitos de cartilagem, que não são tão robustos quanto os ossos e normalmente não se fossilizam bem, então a maioria dos fósseis de megalodontes que sobrevivem até o presente são dentes. Como os tubarões modernos, o megalodon estava constantemente perdendo dentes e criando novos, com um suprimento constantemente regenerado armazenado em suas mandíbulas. 

Graças a essa chamada correia transportadora de dentes, alguns tubarões podem perder e substituir dezenas de milhares de dentes ao longo de suas vidas, disse o coautor do estudo Haviv Avrahami, doutorando no Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Estadual da Carolina do Norte em Raleigh, disse à Live Science por e-mail.

“Isso seria como perder cerca de 20 dentes de leite todos os meses”, disse Avrahami.

Para descobrir o que pode estar na raiz do dente de megalodonte dividido, os pesquisadores se debruçaram sobre centenas de dentes de tubarão fósseis na coleção do Museu de Ciências Naturais da Carolina do Norte em Raleigh. Eles encontraram apenas mais dois exemplos da deformidade incomum de dentes divididos: dois dentes do tubarão-touro Carcharhinus leucas, uma espécie que viveu ao lado do megalodon há milhões de anos (mas era muito menor, atingindo um comprimento máximo de cerca de 12 pés, ou 3,7 m) e ainda está por aí hoje.

Eles mediram os dentes deformados ao lado dos dentes normais das duas espécies de tubarão, então realizaram tomografia computadorizada de raios-X, ou tomografia computadorizada, para mapear as cavidades pulpares nos dentes do tubarão-touro e as redes vasculares dentro do dente do megalodonte e ver como eles podem ter desenvolvido.

Sua análise sugeriu que a geminação era mais provável do que a fusão para produzir os dentes duplos, com base em onde as cavidades e redes pulpares se dividiam “e a falta de grandes anormalidades radiculares” em todos os dentes duplos, de acordo com o estudo. Os dentes divididos também eram muito simétricos, o que não seria o caso se eles se formassem a partir da fusão de dois dentes em diferentes estágios de desenvolvimento, relataram os cientistas.

A raiz da questão

Quanto ao que pode ter causado a patologia, o dano traumático ao broto do dente por uma facada é uma causa mais provável do que doença ou infecção, que os tubarões normalmente ignoram, explicou Avrahami. “Os tubarões são estranhos porque parecem ser particularmente resistentes a adoecer com infecções”, disse ele. 

Por esse motivo, “acredita-se que outras deformidades dentárias em tubarões sejam mais prováveis ​​​​devido a trauma”, acrescentou. Os tubarões-touro modernos são conhecidos por se alimentarem de presas pontiagudas que podem causar tais lesões, incluindo peixes-serra, raias e ouriços-do-mar, e embora se acredite que o megalodon tenha predado principalmente mamíferos marinhos – e talvez peixes e tartarugas – sua dieta pode ter sido mais diversificada do que o esperado, incluindo a vida marinha com armas defensivas pontiagudas.

Com cerca de 300 dentes na boca, o megalodon provavelmente não foi muito incomodado por um único dente partido. Mas se o seu dente tivesse sido ferido por uma farpa ou espinha que se alojou na mandíbula do grande tubarão, “provavelmente teria causado muita dor ao animal, possivelmente tornando mais difícil para ele caçar”, observou Avrahami.

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Fonte: livescience.com